O vento
Sempre a voltear despenteando ideias,
O esquecimento a incendiar-se
No rosário da mesquinhez.
Quem sou eu,
Resto gasto do passado,
Chuva de desejos,
Enchente de nadas,
Displicente avalanche de murmúrios.
E tantas gaivotas ancoradas no lodo.
O brilho mole a engolir charcos
A morte a anunciar-se
Em neons nocturnos
Na rigidez das formas
Nas sombras dos limites
No escuro do fundo.
E sempre ela a espreitar…
Eu e o meu olhar
Também a espreitarem
Por detrás do espelho da vida
Espectador de mim mesmo.
Qual de nós morrerá primeiro?
Qual de nós
Eu ou o meu reflexo?
E quando eu for
Ele ainda aí ficará a olhar-te desconfiado?
E eu a sentir-me despido
Nunca nu
E uma casa sem telhas
Um telhado sem pétalas,
Praias em labaredas
E labaredas sem formas
E flores sem gente
E o brilho ensurdecido
No olhar sem cor
E os olhos muito abertos
Da morte,
E o comboio na noite
(fita interminável de brilhos)
E o teu corpo fresco
A vir até mim em brisas fugazes
E tu mulher vento sempre a soprar
Dentro da minha cabeça
E uma vida a murchar
E a sorte a desfolhar
A vontade a amarrotar-se na doença
E a rosa esfiapada
E a luz mansa a poisar
Na curva obtusa
E uma mão pendurada
Por cima do ombro da morte aos quadrados
A cabeça tonta encostada ao vazio
E o laço de cabelo cortado
A esventrar o alvo de setas
E o rosto das molduras,
Medalhas de carne
E a vida a boiar
No lodo do olhar
O sorriso herdado
O ir devagar
O pingo de poesia
Nos pelos do azar
O uivo na noite parada
O trotar das ideias
Uns óculos aduncos a levitar
E o colar de desgraças a enfeitar
As capas da memória
Fernando Jóia 05
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Esquecer
Esquecer sempre as recordações
Do que não vai acontecer,
Ouvir palpitar as lufadas
Dos sonhos mornos,
Ler o frio de nada sentir
E saborear o nunca em golfadas geladas
A escorrer na parede
Do tempo.
Fernando Jóia
Do que não vai acontecer,
Ouvir palpitar as lufadas
Dos sonhos mornos,
Ler o frio de nada sentir
E saborear o nunca em golfadas geladas
A escorrer na parede
Do tempo.
Fernando Jóia
Abre-se o vento
Abre-se o vento
Na manhã repentina,
E na distancia fixa e louca
Fica um olhar vítreo.
Rompe-se perene a penumbra
Em muitas golfadas de cor.
Aqui perto acalma-se o silêncio,
Ali agitam-se os odores.
E no pensamento morre longinquo e aos poucos
O cheiro húmido da terra.
Dançam no ar as curvas dos pássaros.
Saltitam na melancolia palavras cantadas
Com sabor a morno,
E lentamente escorre a luz austral
Salpicando o dia …
Fernando Jóia
Na manhã repentina,
E na distancia fixa e louca
Fica um olhar vítreo.
Rompe-se perene a penumbra
Em muitas golfadas de cor.
Aqui perto acalma-se o silêncio,
Ali agitam-se os odores.
E no pensamento morre longinquo e aos poucos
O cheiro húmido da terra.
Dançam no ar as curvas dos pássaros.
Saltitam na melancolia palavras cantadas
Com sabor a morno,
E lentamente escorre a luz austral
Salpicando o dia …
Fernando Jóia
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Chuva Azul
Eu quero entornar
A poesia por aí.
Sorver o vício,
Em golfadas monstruosas.
Zarpar ao sabor
Dos muitos sentimentos,
E agarrar o momento,
No ar.
Eu quero embebedar
O pensamento no torvelinho
Das imagens,
Morder a dor em cada sobressalto.
Esventrar o agora
Que se cola na cara
E se mistura com a chuva azul.
Eu só quero o nunca.
…
Só eu quero o nunca.
Fernando Jóia
A poesia por aí.
Sorver o vício,
Em golfadas monstruosas.
Zarpar ao sabor
Dos muitos sentimentos,
E agarrar o momento,
No ar.
Eu quero embebedar
O pensamento no torvelinho
Das imagens,
Morder a dor em cada sobressalto.
Esventrar o agora
Que se cola na cara
E se mistura com a chuva azul.
Eu só quero o nunca.
…
Só eu quero o nunca.
Fernando Jóia
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